O tempo passa em um ritmo diferente para quem está em um ambiente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Registros sonoros repetidos sob certa exaustão partem de equipamentos indispensáveis ao momento esperado da alta médica. A longa permanência de crianças na UTI Pediátrica do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, tem um motivo: a unidade, por determinação da secretaria estadual da Saúde, desde maio de 2023, passou a receber, por tempo indeterminado e via Sistema de Regulação, pacientes com sintomas da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Nestes casos, o tempo de permanência, em média, é de 20 dias.
Por conta de um longo período, o desafio dos fisioterapeutas sempre foi como manter a criança internada no limite mínimo possível dos sintomas da Síndrome do Imobilismo, um conjunto de sinais e sintomas relacionados à mobilidade, cujo potencial funcional tem influência direta do nível de atividade física. “Esses malefícios trazem diminuição de força e até de interação com outras crianças”, alerta a fisioterapeuta Laura Nascimento. “Por isso, é preciso estabelecer condições para que este paciente possa retornar para casa o mais funcional possível”, completa.
*Iniciativas lúdicas*
Foi pensando nisso que a equipe de fisioterapia do HMIJS impulsionou iniciativas lúdicas pensadas e construídas no próprio hospital para atender a esta demanda. Luvas dão vida a exercícios respiratórios. Sacolas de plástico são transformadas em capas de super-heróis. As escadas e corredores do hospital viram pistas de atletismo para a performance daqueles seres invencíveis que um dia os pacientes sonham ser.
Há 15 dias, Mathias, de 3 anos, foi internado com um quadro grave de pneumonia. Agora, em fase final de recuperação, revelou-se um fã incondicional de Batman e foi esta a fantasia que ganhou recentemente, confeccionada pela própria Laura. Nos últimos dias, corre pelos corredores do hospital, fantasiado e feliz. “Não é só correr. É correr para ver a capa do Batman voar. Temos muitos casos de bronquiolite e pneumonia com limitação cardiorrespiratória e este exercício que ele faz ao imitar o herói é fundamental”, explica a fisioterapeuta. Mathias também sobe e desce escadas e realiza outros procedimentos lúdicos com ajuda de copos e canudos plásticos que o aproximam cada vez mais da alta médica.
*Simplicidade que dá certo*
“Achava que na UTI só equipamentos enormes e altamente tecnológicos poderiam salvar o meu filho. E descobri que coisas simples, como uma luva de borracha, um canudo, um copo plástico, também ajudam. Trouxe uma criança doente e vou levar um super-herói para casa”, entra na brincadeira a mãe de Mathias, a dona de casa Erica de Jesus. Eles moram em Gandu.
A coordenadora de Fisioterapia do HMIJS, Virgínia Marilene, destaca que, mesmo internada em um hospital, a criança necessita brincar. Ela lembra que é importante para o processo de recuperação trazer o paciente para a luz do dia, interagir com outras crianças e até mesmo praticar exercícios físicos e cuidar do condicionamento cardiorrespiratório. “O estar parado, deitado, diminui a capacidade respiratória da criança”, revela.
*Resultados positivos*
“A possibilidade de realizar a fisioterapia de forma lúdica termina sendo a certeza de que podemos implementar a fisioterapia tradicional, alicerçada no que temos e dentro do que podemos”, completa Laura Nascimento, idealizadora da iniciativa. “Elas mudam. O humor passa a ser outro”, assegura. O projeto vem ganhando o “poder” que a “casa dos super-heróis” precisa para ganhar ainda mais força para salvar vidas e transformar um ambiente hospitalar num cenário de magia até nos momentos mais difíceis.
O Hospital Materno Infantil Dr. Joaquim Sampaio, construído pelo Governo do Estado e administrado pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), conta com 105 leitos destinados à obstetrícia, à gestação de alto risco, pediatria clínica, UTI neonatal e centro de parto normal, integrados à Rede Cegonha e atenção às urgências e emergências, com funcionamento 24 horas e acesso por demanda espontânea e referenciada de parte significativa da região sul da Bahia.